segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Cons [tata/tela] ção

Ah, a minha primeira paixão...

“Eu só posso amar ela de verdade!”, eu dizia para mim mesmo...

Estava deitado no banco de trás do carro, olhando para as estrelas e só o que eu conseguia pensar era nela. Como um idiota, ligava as estrelas tentando formar desenhos e tentava usar a minha criatividade para reconhecer a forma de animais em meio às nuvens.

Deitado, olhando para as estrelas e pensando em uma pessoa em especial?

“Estou apaixonado”, constatava.

Nunca mais me esquecerei daquela menina. Nunca mais. Morena, cabelos lisos e curtos, uma voz de criança... Faz tanto tempo, mas eu consigo recordar cada detalhe com uma precisão incrível. Chega a assustar. É como dizem, “o primeiro amor a gente não esquece”. Amor, paixão, enfim. Ela foi a minha primeira.

Estávamos na creche. É, creche. Não sei bem se era maternal, Jardim A, Jardim B, não lembro. A minha memória (nada boa) se tratou de apagar as subdivisões estudantis que precederam o colégio. Independente do ano, éramos crianças. Criancinhas. Bebês? É, talvez.

O nome dela era tão bonito: Natasha. Nome forte, nome imponente, nome inesquecível na vida deste que vos escreve.

Lembro que eu dizia para todos os meninos o quanto eu gostava dela. Dizia que amava a menina. Dizia que queria namorar com ela.
Namorar, imagina. Eu e a Natasha não daríamos certo.É o que chamam hoje de “incompatibilidade de gênios”, ou coisa que o valha.
Sei disso pois o nosso único contato foi mais ou menos assim, perto do bebedouro após um recreio de muita correria e risadas:

- Oi cara de boi! – disse eu, decididamente tentando conquistar aquela que amava.
Eu já era um grande galanteador nessa época, pódizer. Quanta malícia, quanto charme, quanta sedução! “Cara de boi”, perfeito! Ela não poderia resistir, ah não.

Meio sem jeito, Natasha respondeu:
- Tchau cara de pau!

Mas ela tinha um tom sério, fechado. Não havia entrado na brincadeira que eu tentara propor. “As meninas estão alguns anos na frente dos meninos no que diz respeito à mentalidade”, o pessoal comenta. Vai ver é verdade. Ela já não caía mais nessa cantada, tão batida para a época.

O fato verdadeiro e imutável é que eu a amava.
Era uma época distante, na qual os meus olhos conseguiam enxergar com a mesma precisão o quadro-negro na sala de aula e as estrelas no céu.

Engraçado.

A nossa ligação ficava delimitada por aquele quadro-negro durante o dia (deveríamos sentar no mesmo grupo, colar feijões em uma folha juntos e pronto) e se expandia à lugares e momentos inenarráveis, inalcançáveis e deveras incríveis durante a noite, quando as letras da professora (da “tia”, vai) davam lugar às estrelas no céu e às suas inúmeras combinações possíveis e imagináveis.

Época boa.

A grande verdade é que nunca mais falei com a Natasha. Nunca mais olhei para as estrelas pensando nela, nunca mais. Acabou a creche, acabaram as atividades que envolviam cola e feijão ao mesmo tempo, acabou a Natasha, vieram outras e os meus olhos, outrora perfeitos, passaram a enxergar menos.

Hoje, caro leitor, não consigo mais ver o quadro-negro sem a ajuda de óculos como fazia nos tempos da creche, mas, por alguma razão que eu desconheço, os meus olhos míopes sem a ajuda de lentes ainda conseguem enxergar com precisão as estrelas tão distantes num céu muito mais negro do que o próprio quadro. Paradoxal.

Só queria dizer que hoje me peguei olhando para as estrelas novamente. Tudo era abstrato no céu. As estrelas e as nuvens pareciam que estavam dançando ritmos diferentes no mesmo salão, sem nunca formar nada que eu pudesse reconhecer. Até que Ela me veio à cabeça.
Ela que não é a menininha da história da creche, mas sim A Mulher que apareceu para mudar a minha vida para sempre.

E, com Ela na cabeça, o abstrato se tornou concreto.

Está constatado: Eu amo ela de verdade.

3 comentários:

Anna disse...

co-autoria.

Unknown disse...

"Oi cara de boi!"

cara tinha q te largado a do baton... =\

Unknown disse...

demais.
na verdade tu é demais, pepe.